quarta-feira, 18 de junho de 2014

Gurufim

(6/5/14)

Principiou-se o gurufim do fim das horas,
E príncipes negros, índios e gurus
Aplaudem fora.

Já foi tido o caminho com trilhas fáceis
E tão hábeis são ditos sábios ao atravessá-las.

Leram em pergaminhos com preconceitos,
O mito e o medo, a carne e o osso,
São peças frágeis.

Alguns quiseram viver em museus de idos tempos
E oprimindo seus inimigos se sentem bravos.

Lá no alto, bem no alto, da mais baixa montanha,
Avistaram o ser importante com sandálias velhas.
Descia lento e cantava baixo um antigo mantra,
Sentindo a brisa, notando o novo, suando o samba.

E caem as primeiras gotículas álgidas das chuvas,
De uma nuvem única que bailou com o sol
- Arriscando a luta.

Voaram as aves brancas, negras,
Pardas e as aves raras,
E ao se verem vivas e ralas 
– ao se verem importantes e análogas...
Tornaram-se plumas.

Andre Anlub

terça-feira, 10 de junho de 2014

Nem mais uma vírgula


Nem mais uma vírgula

Meu coração é meu presídio, minha cela;
havia de frente pro mundo uma janela;
ficava escondida, bem no canto,
foi cimentada e pintada com aquarela...
Com misto de cimento, 
pigmentos, 
areia 
e meus prantos.

Não existem mais paisagens, só grades.
Ainda que eu grite pedindo ajuda,
não seria honesto.
Um simples gesto de euforia,
não valeria o mesmo.

E se eu escrever um belo poema,
que fale de rosas e saudades?

- Seria mais uma lágrima, 
nos olhos dos enamorados;
Um unicórnio
ou um ser alado,
nos tantos sonhos.

E se eu me entregar por inteiro,
ficar nu 
e rasgar dinheiro,
me largar na rua?

Nem seria notado.

Pois sou desarmado de inspiração,
sou um mal amado sem coração.
Tenho a candura que não vale a guerra,
tenho a emoção que já caiu por terra.

Mas sem compromisso, no fogo coloco a mão.
Tenho tudo escrito acima,
nem mais uma vírgula,
um ponto final então.

André Anlub®

Das Borboletas


Ao findar a chuva aparecem os primeiros olhos
Curiosos olhos felizes e esfomeados
Donos dos seus devidos solos.

Com o retornar do astro rei
Insetos retomam voo, formigas voltam ao trabalho.

E as borboletas...

Borboletas sem rumos fazem sombras e voam através dos tempos
Com objetivos incógnitos, vão em coloridos enlouquecidos.
Se vão, como os ventos jamais esquecidos...
São arco-íris vivos, sem agonias ou contratempos.

Borboletas são tão frágeis e enamoradas
Imponência e imanência do majestoso
Com seu voar ébrio desconcertante
Deuses levantam de seus tronos e aplaudem.

Borboletas vão de encontro à perfeição
Trovões se calam e vulcões resfriam-se
No infinito do espaço se faz um silencioso eco
Tão perto da magnitude sem emitir um só som.

Nos anéis de saturno o soturno definha
Amplo brilho se faz ofuscando a vida
Nas suas asas a essência, aquarelas no tom
Tudo isso só visto aos olhos do bom. 

André Anlub®

domingo, 8 de junho de 2014

Caixa preta

Saboreio cada gesto como se fosse o último,
tento adivinhar o manifesto do seu pensamento
como se fosse o primeiro, como se fosse justo.
Nada é em vão.

A sua corrente quente me ajuda a nadar,
fico mais confortável e feliz.
Aquela força resistente me diz:
Atravesse o oceano e me beija.

Pelejas amigas, cantigas antigas,
caem bem, são bem recebidas.
Paixões passadas, cicatrizes fechadas,
caem bem, na caixa preta trancada.

Pela manhã molho o rosto e constato minha sorte,
perdi há tempos a necessidade de encenar.
A barba branca, o cabelo ralo
e da vivência o aguçado faro
- o voo mais acertado.

Limpo a poeira da caixa,
às vezes passo um verniz,
mas não abro.

O nosso presente já é tudo que me chega,
me cega e me cerca, fazendo coerente o amor.
Já não acolho vozes externas, demagogias,
orgias de picuinhas, não mais.

Enfim você chegou,
está ardendo àquela prometida fogueira,
com panos - papéis inúteis,
quilos de baboseiras...
E a velha caixa queimou.

André Anlub®

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Anti-herói filósofo

Não me acostumo a recear paixões
Em qualquer esfera
Já com meus quarenta e poucos anos
Afortunado, burro de carga 
Nos caminhos da vida
Em estradas esburacadas
Dias nublados
Na fome, na sede
Na imaginação.

Será que sou anti-herói filósofo?
Que tem a cabeça dura de pedra
De frágil esteatito
Que tem perigosa peçonha
E usa para criar o antídoto
Que tem o coração guardado 
A sete ou oito chaves
Mas deu cópia aos amigos.

A meu ver o amor foi descoberto
Na era Cenozoica, período Quaternário
Perdidos, corações de artistas
Traçados rupestres
Ecos de pesares
Nas paredes das cavernas
Nas mentes apaixonadas.

André Anlub®